domingo, 26 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Cheios...Moradas...Inteiros...
SOLETRANDO A SOLIDÃO
A dor que sinto não é de vazios
Dentro de mim,
vozes - ternuras
mãos - aquecidas
palavras - ecoantes
promessas – vidas
Dentro de mim,
vozes - ternuras
mãos - aquecidas
palavras - ecoantes
promessas – vidas
Dentro de mim,
um rio
uma pedra
uma trilha
uma rua
uma estrela
um apito
um trem
uma aldeia
um rio
uma pedra
uma trilha
uma rua
uma estrela
um apito
um trem
uma aldeia
A dor que sinto é de cheios
Dentro de mim... moradas
Carrego multidões alvoroçadas
Dentro de mim... moradas
Carrego multidões alvoroçadas
A dor que sinto... não é de retalhos
Padeço de inteiros!
Ana Merij

Ana Merij
Desejo
ideal
Aquela, que eu adoro, não é feita
De lírios nem de rosas purpurinas,
Não tem as formas lânguidas, divinas
Da antiga Vênus de cintura estreita…
Não é a Circe, cuja mão suspeita
Compõe filtros mortas entre ruínas,
Nem a Amazona, que se agarra às crinas
Dum corcel e combate satisfeita…
A mim mesmo pergunto, e não atino
Com o nome que se dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino…
E como uma miragem que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solidão,
Nuvem, sonho impalpável do Desejo…
Antero de Quental
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Sem preocupação
Exaltação
Venha!
Venha uma pura alegria
Que não tenha
Nem a senha
Nem o dia!
Abra-se a porta da vida
Sem se perguntar quem é!
E cada qual que decida
Se quer a alma aquecida
No lume da nova fé.
Venha!
Venha um sol que ninguém tenha
No seu coração gelado!
Venha
Uma fogueira de lenha
De todo o tempo passado!
Venha uma pura alegria
Que não tenha
Nem a senha
Nem o dia!
Abra-se a porta da vida
Sem se perguntar quem é!
E cada qual que decida
Se quer a alma aquecida
No lume da nova fé.
Venha!
Venha um sol que ninguém tenha
No seu coração gelado!
Venha
Uma fogueira de lenha
De todo o tempo passado!
Miguel Torga
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Saudade...
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?
De quem é esta saudade,
de quem?
Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...
E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...
De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?
[Saudade - Gilka Machado]
Se você soubesse...
Teus cabelos contêm todo um sonho, cheio de velas e mastros; eles contêm os grandes mares para onde as monções me levam, os climas charmosos onde o espaço é mais azul e mais profundo; onde a atmosfera é perfumada pelas frutas, pelas folhas e pela pele humana.
No oceano de tua cabeleira entrevejo um porto formigando de cantos melancólicos, de homens vigorosos de todas as nações e de navios de todas as formas recortando suas finas e melancólicas arquiteturas sob um céu imenso onde se espreguiça o eterno calor.
Nas carícias de tua cabeleira reencontro langores das longas horas passadas sobre um divã, no quarto de um belo navio, embalado pelo imperceptível balanço das águas do porto, entre vasos de flores e bebidas refrescantes.
Charles Boudelaire
Tesouro humano?
CONDUTA E POESIA
Quando o tempo nos vai comendo com o seu relâmpago quotidiano decisivo, as atitudes fundadas, as confianças, a fé cega se precipitam e a elevação do poeta tende a cair como o mais triste nácar cuspido, perguntamo-nos se já chegou a hora de envelhecermos. A hora dolorosa de ver como o homem se sustém a puro dente, a puras unhas, a puros interesses. E como entram na casa da poesia os dentes e as unhas e os ramos da feroz árvore do ódio.
É o poder da idade, ou porventura, a inércia que faz retroceder as frutas no próprio bordo do coração, ou talvez o «artístico» se apodere do poeta e, em vez do canto salobro que as ondas profundas devem fazer saltar, vemos cada dia o miserável ser humano defendendo o seu miserável tesouro de pessoa preferida?
Aí, o tempo avança com cinza, com ar e com água! A pedra que o lodo e a angústia morderam floresce com prontidão com estrondo de mar, e a pequena rosa regressa ao seu delicado túmulo de corola.
O tempo lava e desenvolve, ordena e continua.
E que fica então das pequenas podridões, das pequenas conspirações do silêncio, dos pequenos frios sujos da hostilidade? Nada, e na casa da poesia não permanece nada além do que foi escrito com sangue para ser escutado pelo sangue.
É o poder da idade, ou porventura, a inércia que faz retroceder as frutas no próprio bordo do coração, ou talvez o «artístico» se apodere do poeta e, em vez do canto salobro que as ondas profundas devem fazer saltar, vemos cada dia o miserável ser humano defendendo o seu miserável tesouro de pessoa preferida?
Aí, o tempo avança com cinza, com ar e com água! A pedra que o lodo e a angústia morderam floresce com prontidão com estrondo de mar, e a pequena rosa regressa ao seu delicado túmulo de corola.
O tempo lava e desenvolve, ordena e continua.
E que fica então das pequenas podridões, das pequenas conspirações do silêncio, dos pequenos frios sujos da hostilidade? Nada, e na casa da poesia não permanece nada além do que foi escrito com sangue para ser escutado pelo sangue.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Florescem comigo...
Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
[A princípio não te vi: não soube que ias comigo... - Pablo Neruda]
Assinar:
Postagens (Atom)