Espio pela janela com um olhar afetuoso o recurso legítimo do amor e rendo-me, acreditando nessa pronta-entrega que me traz benefícios e sacia a minha gulodice sentimental.
O amor vale, qualquer segunda-feira nebulosa, terça desastrosa, quarta sem prosa, quinta sem rosas, sexta pavorosa e no sábado a gente acaba se encontrando no barzinho da esquina para tomar umas e outras e colocar o papo em dia sobre todas as outras ladainhas que valem o amor.
O amor vale até o que não está no contrato. Vale o esforço do braço para dar um abraço sem merecimento. A lágrima de contentamento, os deslizes de pura alegria. As bochechas vermelhas, envergonhadas. O suspiro do coração florescido. O formigamento nas mãos. O versinho vulgar, inventado para agradar. A piscadinha discreta no jantar de família.
O amor vale os tombos, as enxurradas, as invernadas solitárias, a carta cheia de saudades. A espera no portão. A produção para o jantar íntimo.
O amor vale a exclusividade. A paciência de Jó, que geralmente não temos.
O amor vale ser bobo. Errar e desculpar. Dar um jeito na vida. Arrumar um lugar nas gavetas para outros pares de roupas. Vale tocar, apertar, ouvir música juntos, aquecer os pés, fazer uma gentileza, repetir um carinho.
Vale pela taquicardia. Pela pronta-entrega. Pelas vontades saborosas.
Vale a doação, o carinho. O amor vale a ausência de qualquer teoria. Por si só o amor vale. E vale porque amar é bonito.